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Após o choque inicial, durante e ao finalizar a leitura de 100 escovadas antes de ir para a cama, de Melissa Panarello, outro sentimento que me ocorre é tristeza. Tristeza por uma menina, pelo corpo e pela alma, pelo físico e pelo mental de uma menina, que poderia estar tão perto de mim ou de você. Pelas consequências que a falta de amor e carinho acarretam.

Para quem não sabe ou não lembra, como eu até começar a ler, este livro gerou muito bafafá quando foi lançado em 2003, já que relata em quase 160 páginas as experiências sexuais de uma garota siciliana dos 14 até os 16 anos. Mas não são experiências sexuais, digamos, comuns. São as mais variadas e precoces, das mais asquerosas às mais brutas, nenhuma com amor, todas simples e puramente por uma vaidade doentia. Acho que o que mais me chocou mesmo foi o fato de aquilo realmente ter acontecido, de que aquela menina tenha que ter passado por tanta coisa para finalmente se aceitar, ter o que ela sempre quis.

Diante do espelho, eu me admiro, extasiada com as formas que vão aos poucos se delineando, com os músculos que ganham um contorno mais modelado e seguro, com os seios que começam a aparecer sob as camisetas e se movem suavemente a cada passo. Página 8

Quem me conhece sabe que sou careta, na verdade, nunca fui muito de ler livros assim com cenas mais eróticas e isso que encontrei aqui faz qualquer outra cena descrita em livros que eu tenha lido parecer brincadeira de criança. No livro, Melissa conta em forma de diário essas experiências, a garota não tem pudores, não tem o mínimo respeito por si. Se algum cara quisesse transar, era só chamar. Se for mais de um, sem problema. Cinco? Vamos lá. Um cara casado, de 35 anos? Menos problema ainda. A curiosidade estava acima de tudo.

Ela tinha lapsos de remorso. Depois de fazer as besteiras, chorava, queria se punir. Talvez por isso ela gostasse tanto da violência praticada contra ela, era uma punição para cada ato falho seu. É difícil de saber, é errado julgar. Mas cada vez que eu via que ela ia fazer uma besteira de novo, dava vontade de gritar, puxar pelos cabelos e dar um chacoalhão, porém, como os ditados sábios dizem, um dia a pessoa aprende, toma consciência, pena quando ela tem que passar por um caminho tão tortuoso.

E no meu palato cinco gostos diferentes se encontraram, cinco sabores de cinco homens. Cada sabor com sua história, em cada poção a minha vergonha. Durante aqueles momentos, tive a sensação e a ilusão de que o prazer não era só carnal, que era beleza, alegria, liberdade. E estando nua no meio deles senti que pertencia a um outro mundo, desconhecido. Mas quando saí por aquela porta, senti o coração despedaçado e uma vergonha indescritível. Página 56

Para quem ficou querendo ver minha cara enquanto eu lia, eu digo, devem ter sido expressões bem engraçadas. Espanto é pouco. O que eu sei agora é que se eu sobrevivi ao que li neste livro, que venham os livros da Irmandade da Adaga Negra. hehe

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Melissa, a autora do livro

Atualização

A Laura comentou que há um filme do livro, então achei o trailer, ele foi lançado em 2005.

Beijos