ser clara

A capa pouco convencional, que chama a atenção assim que os olhos batem nela, é o primeiro contato com a história criada por Janaína Rico. Uma história que mistura momentos divertidos, suspense, cenas hot e bastante emoção. A protagonista é Clara, como se pode imaginar lendo o título,  e eu tive muitos problemas com ela. Vamos falar sobre Clara. Brasiliense, 27 anos, professora de língua portuguesa, solteira e muito, muito mesmo, se achona. Admiro quem tenha autoestima em dia, que se goste e tudo o mais, mas ficar afirmando toda hora que tem uma bunda linda e grande, que tem um corpo maravilhoso e que todos os homens a desejam já passa a ser narcisismo. Sem falar que, segundo ela, até os policiais deixam de dar multa quando ela finge deixar cair algo no chão e mostra a bunda para eles.

Clara me irritou muito no início, meu santo não conseguiu bater com o dela, mesmo. Eu mal tinha esquecido a última vez que ela havia comentado sobre sua bunda e lá estava ela comentando de novo. Em um momento eu cheguei a pensar que nunca queria ser amiga dela. Até porque outra característica negativa dela que ficou bem clara é o egoísmo, nossa! Ela só pensa nela e danem-se os outros. A melhor amiga dela foi chifrada na lua-de-mel, está na fossa na casa dela e mesmo assim ela deixa a amiga sozinha e parte para um encontro. Um encontro enquanto a amiga está desolada na casa e sozinha. Isso me indignou. Em outro momento o cara com quem ela se relaciona entra em depressão e ela só reclama que ele não dá bola pra ela, que a paixão está diminuindo, blablablá, quando o mesmo ficou sempre ao lado dela em um momento difícil.

Sem falar na indecisão. A mulher está namorando um médico, lindo, rico, que a enche de presentes, paga suas contas e é um fofo. Ainda assim sente desejo por outro cara e, desculpem a linguagem, dá para ele umas tantas vezes só para depois ficar com a consciência pesada porque traiu. Muitas vezes eu quis entrar naquele livro e dar umas belas sacudidas em Clara, afinal, ela não era uma adolescente de 16 anos que não sabe o que quer da vida, muito menos inexperiente. Era uma mulher feita, que precisava crescer.

Durante muito tempo eu quis dar uns tapas para ver se ela acordava para a vida e então, no desenrolar do livro, eu vi que era isso que Janaína queria para ela também porque com cada escorregão, cada momento difícil e na perseverança – ainda que quisesse pular do barco –, Clara cresceu. Ela sabia que estava errada ao fazer certas coisas e se explicava antes mesmo de fazer, tentava nos ludibriar para não dar bronca nela, por exemplo, dizia “sei que não é o pensamento que uma amiga leal teria” ou “não pense que eu sou isso ou aquilo” quando ela realmente era isso ou aquilo naquele momento, conseguiram captar?

Clara é bem relax, gosta de curtir a vida, de beber, festar, comer besteiras e gosta ainda mais de homens. No casamento de Laura ela conhece João Thomas e eles quase chegam aos finalmente no meio da festa, uma agarração só. Então decidem ir para a casa dela e têm uma noita regada de sexo. Um contratempo faz com que os dois fiquem mais de uma semana sem se falar e nesse meio tempo Clara retoma o contato com uns amigos do tempo da escola, entre eles Léo e Vitinho, que foi responsável pelo fora mais vergonhoso que ela já teve. E ela quer essa conquista ou pelo menos uma vingancinha.

João Thomas acaba voltando para sua vida e se mostrando um cara bem ciumento e possessivo. Mas um cara romântico, que não tem limites para gastos com ela. Roupas, jóias, calçados, viagens e belos jantares estão garantidos. Não que ela tenha aceitado na boa e rapidamente os mimos que ele queria dar para ela, mas depois Clara desencanou, ele só queria vê-la ainda mais bonita para ele. Enquanto isso, Léo mexe com a cabeça de Clara. Ele era sem sal nem açúcar, mas está diferente e realmente gosta dela. Ela agora precisa resolver se vai ficar com um ou com outro. Na realidade, ela quer os dois, mas não pode tê-los.

Apesar de Clara ser  a protagonista, outras histórias também ganham atenção, como a de sua amiga Laura e seus problemas no casamento, que a fizeram ficar muito doente; a de Chico, um professor gay que é muito macho na escola com medo de perder o emprego por preconceito com sua escolha sexual, mas muito divertido e desencanado fora de lá; a família fofa e doida de Clara, além da mãe neurótica e ciumenta de João Thomas. Um livro que tinha tudo para ser um chick-lit ganhou novos rumos, novos temperos, que o levaram para um grande mistério. Clara não se importa com o que os outros pensam dela e comete muitas burradas, mas como comentei antes, algumas situações a fizeram crescer e dar realmente valor às pequenas coisas da vida.  No fim, Clara me convenceu que seria diferente e que em um futuro próximo eu até poderia querer ser amiga dela, mesmo que algumas características continuassem com ela. E eu curti bastante a leitura, em alguns momentos não conseguia largar o livro. Outro ponto positivo é a diagramação, as páginas são muito bonitas, todas trabalhadas.

Não sei se foi por causa da minha antipatia inicial com Clara, mas fiquei mais crítica na leitura e o fato é que achei muitos erros de revisão e edição. O que mais me marcou foram as duas vezes que Clara cita a famosa personagem Bridget Jones, mas no texto aparece BRIGITTE JONES. Uma simples busca no Google tiraria esse erro feio do livro. Também me incomodei com os inúmeros !!!! e ???? no fim das frases, com as frases e palavras escritas em caixa alta e com a linguagem, podemos dizer, chula. Não acreditei quando li a personagem apresentando seu amigo Chico e o chamando de “viado", acho falta de respeito.

Enfim, após muitos atritos com a protagonista e com uma ou outra torcida de nariz para uns errinhos, acabei me divertindo muito com a leitura. Matei fácil a charada do fim, gostei do final e confesso que achei que ele seria diferente. Amei a mãe da Clara e fiquei com vontade de apertá-la. Achei interessante as palavras “fortes” usadas quando se tratava das partes hot e também a presença dos palavrões, que não são muito vistos, mas que agora com essa onda de livros hot devem estar mais presentes. Dei três estrelinhas para o livro no Skoob e gostei da experiência de conhecer a obra de mais uma autora brasuca.

P.S.: Ganhei o livro na página no Skoob da autora, ele veio autografado e tudo. Muito obrigada, Janaína!

Beijos e uma ótima quinta-feira.