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Sou uma pessoa que absorve muito do que lê. Se minha leitura da vez é uma comédia, meu humor geralmente está sempre bom; se é suspense eu geralmente sonho com os mistérios e crimes; e quando a história é pesada, me imagino nela, vivendo aquilo, sentindo tudo e é quando fico quase insuportável, porque mexe com meu humor. Identidade Roubada foi um livro assim, que mexeu com a minha cabeça, meus sentimentos.

O livro foi um presente da Nanda e veio da Bienal do ano passado (demorei para ler, mas li). Já li muitos elogios, inclusive da Nanda, e fiquei boquiaberta com o desfecho da história criada por Chevy Stevens. Gente!

Bom, deixem eu começar do começo. Annie O’Sullivan é uma corretora de imóveis da pequena cidade de Clayton Falls. Ela tem um namorado, que é chef de um restaurante, tem uma cachorrinha fofa, Emma, e está prestes a conseguir uma conta para vender os imóveis de um condomínio que lhe renderá prestígio e dinheiro. Ela não tem uma das melhores relações com a mãe, que está – se não me engano – no terceiro casamento. Mas leva como dá, sempre tentando não acabar cada conversa em briga. Aquele seria mais um domingo de trabalho para ela, que estava de plantão em uma das casas a venda. O dia foi fraco e ela começou a juntar as coisas para acabar o expediente. Foi então que um homem chegou e pediu se ela lhe mostraria o lugar. Como boa vendedora, ela não se opôs e esse foi um dos maiores erros que poderia ter cometido. O cara, a quem ela futuramente chamaria de Maníaco, era seu sequestrador.

Os seriados de suspense a que assistia na TV passaram pela minha mente. O CSI Las Vegas era meu favorito. Grissom já teria chegado àquele chalé onde eu era mantida em cativeiro e, observando o interior e analisando um punhado de terra do lado de fora, saberia exatamente o que tinha acontecido e onde eu estava. Eu me perguntei de Clayton Falls teria uma unidade do tipo CSI. Páginas 19 e 20.

Eu gostaria mesmo de destrinchar o livro para vocês, comentar todas as partes que me fizeram ir à loucura, desejar até mesmo a morte do vilão – que tinha toda uma bagagem também, o que não explica o que ele fez. Mas não posso estragar o clima para quem for ler, então tentarei ser o mais concisa possível. Ele pensou em tudo, nos mínimos detalhes. Levou Annie para um chalé e tomou todas as medidas possíveis para que ela não conseguisse uma maneira de sair. Ela não conseguia ver a luz do sol, só podia usar o banheiro nas horas em que ele estipulava e toda noite era banhada por ele. O cara era tão maluco que a depilava sempre e entrava em pinote caso ela quebrasse alguma regra. Annie ficou 365 dias à mercê do Maníaco e nesses dias passou por tantas provações que só me fizeram admirá-la por sua perseverança, por sua força. Apesar de em raros momentos o Maníaco ser uma pessoa boa para ela, não compensava todos os outros momentos que ele foi um animal. Isso me dava uma gana.

Ele me incentivava a explicar e defender minhas opiniões, e nunca perdia a calma, nem quando eu o contrariava. Com o passar do tempo, comecei a relaxar durante nossas discussões literárias. Evidentemente, assim que a hora da leitura chegava ao fim, também se encerravam os únicos momentos em que eu não tinha medo, a única atividade que me agradava e me fazia sentir um ser humano, me fazia sentir eu mesma. Página 55

A história de Annie é contada em 26 sessões de análise, quando ela se abre para a doutora que escolheu, depois de sofrer tanto. E essa narrativa diferente acrescenta pontos ao livro, já que parece que está contando sua trágica história diretamente a nós. Ela começa contando sobre o sequestro, depois conta sobre seus dias já em casa e volta para o tempo em cativeiro, mas tudo bem explicado, nada confuso. Uma das dúvidas que martelaram sua cabeça desde o início foi por que ela? Qual o motivo, o que levou o Maníaco a agir naquele dia e a escolhê-la?

As partes que mais me agoniavam eram as dos estupros, cada momento de tensão que Annie passava, eu passava com ela. Todo sofrimento, o medo, as coisas que ele fez com a mente dela... Eu temia pela vida dela, eu odiei com todas as minhas forças o Maníaco, por ser capaz de acabar assim com a vida de uma pessoa e achar que estava fazendo o certo.

Annie conseguiu se libertar – lendo vocês saberão como -, mas todas as sequelas daquele sequestro ficaram com ela. Ela não conseguia se sentir segura, sempre achava que estava sendo observada, sem falar que não conseguia ir ao banheiro quando bem quisesse, só nas horas estipuladas pelo sequestrador. Imagine uma pessoa ficar feliz porque conseguiu fazer xixi de madrugada. Annie se sentiu extremamente feliz com isso, porque sua vida implodiu com o que passou, ela não aceitava o contato com ninguém. E tem mais, quando eu pensei que ela já tinha sofrido demais, vem a explicação do sequestro e o desfecho final do livro, que para mim foi até mais doloroso do que tudo que ela passou.

Eu odiava levar em conta a opinião de um maníaco. Mas se alguém nos diz que o céu é verde, embora saibamos que é azul, e a pessoa age como se ele fosse verde, e repete que é verde dia após dia, como se de fato acreditasse nisso, finalmente começamos a nos perguntar se não estamos loucos por pensar que é azul. Página 71

Eu fiquei abobalhada com o fim. Achei magnífico – pelo ponto de vista criativo – e jamais o imaginei. Pensei em inúmeras possibilidades, mas jamais na que foi apresentada. Chevy Stevens começou com o pé direito sua carreira como escritora e me deixou super curiosa com sua outra obra publicada por aqui: É melhor não saber. Enfim, foi uma leitura que exauriu minha cabeça, sonhei com sequestro e tudo, mas é um livro brilhante, que merece ser lido, sem dúvida nenhuma. Merecedor de cinco estrelas.

Cliques de Identidade Roubada

DSC06907 Início de capítulo

DSC06910Dedicatória fofa da autora 

Beijos e uma excelente terça-feira!